Quando Leonor Baldaque comprou uma guitarra, não sabia que uma nova expressão artística, a este ponto intensa, a aguardava e se tornava na sua nova paixão. Esta veio-se juntar às outras duas que praticava há anos, a representação no cinema enquanto actriz de Manoel De Oliveira, e a escrita de romances sendo autora publicada por duas das mais prestigiadas e exclusivas editoras de literatura francesas.
Foi há três anos apenas que a guitarra entrou na sua vida, e a quantidade de canções que compôs desde então é estonteante. A sua frequentação da música não é recente — estudou violoncelo e piano — mas, até agora, como ela diz «não sabia que tinha uma voz ». Este álbum está aqui para mostrar que tem uma voz, e que voz: única, profunda, recitando como quem canta, e cantando como quem recita. Uma voz envolvente, médio-grave, e que percorre os seus textos com uma intimidade desarmante, e um sentido da representação inato.
Em “A Few Dates of Love”, o seu álbum de estreia, Leonor Baldaque fez uma escolha, em parte cronológica, começando pelo início, em parte narrativa, contando uma história, e seleccionou dez temas. Estamos perante uma poetisa, antes de mais. De uma contadora de histórias. E de uma intérprete de génio. A simplicidade da guitarra, na maior parte dos temas, é constantemente envolta de melodias que parecem viajar sós por cima dessas notas. A sua voz dá-se, retira-se. Desvenda e esconde. A sua narrativa é pessoal, recorrendo a um imaginário rico, que é como um poço de palavras, de imagens e cenários, quase sem fundo. O vento, a viagem, o amor, a falta dele, o anoitecer sobre uma guitarra; o Verão, o exterior, os Canyons, o álcool e um palácio: passageiros no seu mundo, Leonor Baldaque arrebata-nos consigo, e não conseguimos retirar a nossa atenção do que nos veio dizer.
Um álbum que, sem dúvida, podemos qualificar de “independente”, e que é como uma viagem dentro de uma personalidade multifacetada, difícil de assimilar a outros artistas, e onde podemos apenas entrever a presença, algures, de Leonard Cohen, da Folk americana, do Folk-rock, mas já distante. Leonor Baldaque pegou no que encontrou, e fez o seu caminho. É responsável pelas letras e composições e assina ainda a realização e edição dos seus videoclips. A Few Dates of Love soa já a um clássico.
Após uma primeira apresentação ao vivo na Casa da Música no Porto, Lisboa tem agora a honra de receber o próximo concerto de Leonor Baldaque: dia 5 de Abril, às 21h30m, no Auditório Camões, no Liceu Camões, em Lisboa.
Sobre a Casa da Música, Leonor confessa: “Artisticamente, foi a minha experiência mais audaz até hoje. Há uma imediatez na transmissão de uma canção em palco, que não se conhece nem com a escrita, nem como o cinema. E depois, eu sempre tive uma grande paixão pelo risco. E estar em palco, a cantar coisas tão intensas, sem que isso seja a vida de todos os dias, é um grande risco.”
E prepara-nos para o que poderemos esperar do concerto em Lisboa: “Tenho a impressão de que vou de novo caminhar sobre um fio no concerto de Lisboa. O mais estranho, é que não sei o que vai acontecer: eu conheço as canções, o alinhamento, mas não posso dizer saber o que vai acontecer. Será apenas o segundo concerto, e estou impaciente.”
O disco “A Few Dates of Love” de Leonor Baldaque, uma das cantautoras portuguesas mais singulares actualmente, chega às lojas no dia 5 de Abril.
Em Abril, igualmente, a editora Quetzal publicará a primeira tradução portuguesa do último romance francês de Leonor Baldaque, Piero Solidão.